Esta postagem foi retirada (com a devida permissão) do blog http://www.vivapocos.com/ , do jornalista Rubens Caruso Jr, o paulistano mais poçoscaldense que conheço!
A MAIORIA ESTRANHA
O Jornal de Poços trouxe, em sua edição de ontem, 4/8, a manchete: “Maioria dos Vereadores é a favor do projeto Niemeyer”. Ah, bom. Então o assunto está encerrado? Negativo. Todo esse assunto está encoberto sob o manto do mistério, digno dos mais perturbadores dramas.
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A preocupação começa já na confirmação de que houve realmente uma “reunião informal”, que teria levado à decisão da contratação do projeto de construção de um novo e mui provavelmente suntuoso palácio para acomodar suas excelências num incerto e duvidoso Paço Municipal. Fala-se em 7 mil m2 como se fosse uma obrinha, mas nada que leve a assinatura de Niemeyer deve ser pensado no diminutivo.
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A preocupação começa já na confirmação de que houve realmente uma “reunião informal”, que teria levado à decisão da contratação do projeto de construção de um novo e mui provavelmente suntuoso palácio para acomodar suas excelências num incerto e duvidoso Paço Municipal. Fala-se em 7 mil m2 como se fosse uma obrinha, mas nada que leve a assinatura de Niemeyer deve ser pensado no diminutivo.
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O jornal teve o cuidado de ouvir os vereadores, exceto dois – Paulo Eustáquio e Marcus Togni, não localizados pela reportagem, um prodígio em tempos de telefonia celular e assessores à disposição nos gabinetes. A opinião de Togni, presidente da Câmara e autor do projeto, é dispensável, visto que o tal projeto Niemeyer é um sonho particular que ele acalenta desde 2006, quando era também presidente da Câmara –o link de transparência das contas da Câmara aponta, em 11/04/2006, empenho de verba para a compra de "Passagem aérea ida e volta, para o Presidente Marcus Eliseu Togni, Campinas/R. de Janeiro/Campinas, onde participará de audiência no escritório do Sr. Oscar Niemeyer para tratar de assuntos relativos ao projeto do Paço Municipal de Poços de Caldas". Depois de dexiar a presidência, o assunto esfriou, voltando à tona juntamente com a nova ascensão do vereador à presidência da Câmara.
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Confira o que disseram os vereadores –e guarde as opinões para o futuro, quando forem falar em coerência, controle de gastos ou interesse popular:
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Álvaro Cagnani –“Aconteceu uma reunião informal. Fui favorável, desde que não tivese problemas com a licitação”. De fato, o vereador pode ficar tranquilo, pois sequer houve licitação, afinal, Niemeyer, apesar de comunista convicto, é um Deus, e nesse caso a lei foi usada convenientemente para dispensar licitação. Outro ponto importante que o vereador aponta é que “a obra pode ser realizada por etapas para não ficar tão cara. Pode demorar 10 ou 12 anos”. É sério. Ele disse. Eu sei o que acontece com uma obra que leva dez anos: nunca fica pronta.
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Antonio Carlos Pereira –“Desde o início fui contrário. Não é o momento, pelas dificuldades financeiras que o país atravessa. A Câmara tem verba, mas o dinheiro sai da mesma ‘vaca’, ou seja, dos cofres municipais”. Lúcido e antenado, o vereador lembra ainda que “a Câmara passou por uma reforma recente”.
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Flavio Faria –“Fui contra. Neste momento existem outras priorirdades. Tem questões agravantes no que diz respeito às questões ambientais”. O vereador ainda trouxe à discussão a questão do aumento de 1% nos salários do funcionalismo e acha a obra, “avaliada em cerca de 14milhões, muto cara”.
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Então, até agora temos o segunte: a obra, decidida numa reunião informal, é cara, pode demorar de 10 a 12 anos para se concluída e o dinheiro não é da Câmara, mas da prefeitura (do povo).
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Joaquim Alves –“Sou a favor da construção do Paço para desafogar o trânsito da área central, mas contra a contratação do projeto de Niemeyer. Quanto ao local de construção não sei, uns falam uma coisa, outros falam outra”. Vereadores devem ser firmes em seus discursos e principlamente ter convicção daquilo que estão discutindo, e o vereador demonstra certa insegurança. Minha modesta sugestão é que ele passeie pelo centro aos finais de semana, para constatar que o trânsito em Poços anda ruim mesmo quando não há expediente oficial.
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Joaquim Alves –“Sou a favor da construção do Paço para desafogar o trânsito da área central, mas contra a contratação do projeto de Niemeyer. Quanto ao local de construção não sei, uns falam uma coisa, outros falam outra”. Vereadores devem ser firmes em seus discursos e principlamente ter convicção daquilo que estão discutindo, e o vereador demonstra certa insegurança. Minha modesta sugestão é que ele passeie pelo centro aos finais de semana, para constatar que o trânsito em Poços anda ruim mesmo quando não há expediente oficial.
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Waldemar Lemes –“Fui contrário à contratação e a favor de um concurso internacional; agora parece que o projeto é razoável. Acho que a obra não vai ficar cara, só não pode ser superfaturada”. Ufa! Agora sim estou relaxado. O vereador afirmando que a obra não pode ser “superfaturada” é um alívio. Quanto ao fato dele considerar que não vai ficar cara, ou eu sou muito muquirana ou não tenho a menor noção do valor do dinheiro. Bom, do meu dinheiro eu tenho. Do dinheiro do povo aí eu já não sei.
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Maria Cecília Opipari –“Fui a favor da contratação do projeto, mas contra a área escolhida. Não pdemos sentar e calar passando a resposnabilidade de aprovação só para o presdiente da Cãmara. Houve um consenso. Quando a obra for concluída vai virar um ponto turístico. Não esperava tanta repercussão”. Na minha opinião a maior decepção desta legislatura até o momento, a vereadora, que chegou à Câmara esbanjando humildade ao afirmar que seu mandato seria um “divisor de águas”, adota agora um discurso corporativista e sai em defesa de seu presidente, contrariando o “padrinho” Paulo Tadeu no assunto. Curiosamente, o tablóide de campanha que a vereadora dividiu com o petista destacava a “estrutura faraônica que consome quase 80 mil reais na Sinfonia das Águas". Coerência é tudo.
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Regina Cioffi –“Em uma reunião informal, o presidente disse que havia feito três cotações: uma de mais de R$ 2 milhões, outra de R$ 1.2 milhões e a de Niemeyer por R$ 1.250.000. Por esse valor nós achamos que poderíamos ter aqui um monumento que vai entrar para a história”. É verdade, tudo que Poços precisa é “entrar para a história". Mas o pior veio a seguir na fala da vereadora: “Mas, nós não vimos essas cotações. Se esssas cotações realmente existirem, acho que não tem problema”. Vereadora, confiança é tudo na vida. “Caso essas cotações não tenham sido realizadas, vou me sentir extremamente enganada e traída”. Que dó. Só para o amigo leitor do Viva Poços! saber, na empresa em que trabalho qualquer compra de valor superior a R$ 200 só é efetuada com documentação, não tem “falaram que”. Nossa zeloza vereadora deve estar de cabelos em pé com a repercussão. Deve mesmo, afinal ela é “signatária” da tal reunião informal.
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Rogério Andrade –“Sou a favor por achar que Poços tem alguns prédios que são marcas da cidade”. Sobre Niemeyer, o coloquial vereador afirma: “acho ele um cara competente, reconhecido no mundo inteiro, então acho que a gente deve ter uma obra dele aqui. Comparado com outros de R$ 4 milhões o projeto dele está dentro do valor normal de qualquer arquiteto”. Normal? Como assim, normal? O que é um “valor normal”? Um cafezinho por R$ 2 reais é um valor normal, e, na conta do vereador, construir um palácio de 7 mil m2 também terá um “valor normal”?
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Tiago Cavelagna –“A princípio sou a favor da contratação, porque o preço é compatível aos outros profissionais”. Sobre a compra do projeto, o vereador afirma que “não é nada surreal”. Quanto à construção, o vereador afirma não saber se o projeto vai mesmo ficar no Paço, já que a área “ainda não está efetivamente definida” e, com relação à execução do projeto, “tá aí algo que tem que ser repensado: existe a necessidade de se gastar R$ 12 milhões?”. Gostaria de saber do vereador se ele realizaria "o sonho da casa própria" assim: compra um projeto lindo de um arquiteto famoso, depois vai ver se o terreno serve e no fim, pensar se tem o dinheiro para construir. Bem prático.
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Valdir Sementile –“Sou a favor. Imagine, por exemplo, uma faculdade de arquitetura de qualquer parte do Brasil descobre que Poços de Caldas tem um projeto que foi executado pelo Niemeyer, que é um ícone já com 102 anos. Tem que convir que é uma celebridade. Pensando nisso, sou favorável. Fui às lágrimas. Agora ficou difícil até escrever, com os olhos embotados e as mãos trêmulas. Nessa linha de pensamento, acho que poderíamos mandar construir uma estátua de Paris Hilton na Praça Pedro Sanches, afinal ela também é uma celebridade! Ou não?
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Entende o amigo do Viva Poços! a causa da minha indignação? Para relembrar: a obra é cara, pode demorar de 10 a 12 anos para se concluída e o dinheiro não é da Câmara, mas da prefeitura (do povo); a obra não vai desafogar o trânsito do centro e investir em mais um ponto turístico numa cidade que tem pelo menos outras 10 atrações importantes é um gasto que não precisamos. As cotações não foram formalmente apresentadas aos vereadores, pois foi uma reunião informal, sendo que uma dessas cotações pode ter sido de R$ 4 milhões –mas fecharam pela de Niemeyer, bem mais em conta, um valor “normal”. Vamos comprar ou já compramos um projeto que não se tem certeza será viabilizado, mas temos que homenagear uma celebridade, pois algum dia estudantes de arquitetura descobrirão que há um projeto de Niemeyer em Poços de Caldas! Veja que nem entre eles o discurso é unânime.
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A discussão não é sobre Niemeyer, é sobre necessidades. Enquanto houver um mendigo na cidade, uma pessoa na fila esperando atendimento de saúde, um buraco no asfalto, uma criança fora da escola, um pai de família desempregado, nada justificará a construção de um palácio arquitetônico na cidade, muito menos com o dinheiro do povo. Esse, infelizmente, anda quieto, deixando o barco correr levando seu dinheiro em obras incompreensíveis, à espera das próximas eleições, quando os sarcófagos serão novamente abertos e gritos horripilantes de "Vote em Mim" ecoarão pelo planalto de Poços de Caldas.
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