Achei esse post sobre rock alemão , que eu curto de montão (expressão antiga, não?). Os autores estão devidamente creditados e creio que é uma excelente oportunidade de conhecer os grupos alemães da fase mais prolífica da música, que é o rock progressivo. É lógico que eu não concordo com todos os comentários feitos, principalmente quanto à "clonagem" do som de bandas americanas ou inglesas da época, principalmente quanto ao Triunvirat e o Tangerine Dream, que eu considero ótimas bandas (imperdíveis). O Eloy, Nektar e Embryo também mostram valores acima das imitações que lhes são atribuídas. Além disso o Kraftwerk é um caso à parte no rock eletrônico, uma verdadeira aula de como se faz música eletrônica. Ou seja, os alemães fizeram uma ótima fase progressiva do rock. É para ouvir e viajar!
ROCK GERMÂNICO NO BRASIL
por André Mauro / Breno NininiO rock n’roll, coroamento de uma longa evolução musical na terra de Tio Sam,
dificilmente poderia gerar desdobramentos criativos no continente europeu.
No inicio dos '60, entretanto, os jovens músicos ingleses perceberam que
havia grande identidade entre o protesto candente do rhythm’ blues e a
angústia que eles próprios sentiam. Assim, mergulhando na raiz negra do
rock, os Beatles, Stones, Animals etc.começaram a sua aclimatação na Europa.
A Alemanha não participou sequer dessa evolução. Só foi tocada, mesmo, com a
eclosão do rock progressivo. Por quê? Ora, devemos lembrar, antes de mais
nada, que a Alemanha e o Japão foram os grandes derrotados da 2ª Guerra
Mundial. As feridas custaram a cicatrizar. Ambos se atiraram
compulsivamente ao trabalho - os japoneses para exorcizarem os horrores
atômicos, os boches para esquecerem os genocídios nazistas - afinal, em seu
caso, a humilhação do fracasso somou-se à vergonha pelos crimes contra a
humanidade.
Além disso, a Alemanha emergiu do conflito dividida, como um dos palcos
principais da Guerra Fria. Nena (cantora pop), em "99 Luftballons", dá
uma idéia do que significava o muro de Berlim para os germânicos - símbolo
tangível da derrota, obstáculo ao congraçamento de irmãos e, pior, farol
que iluminava os temores/presságios de uma nova e definitiva contenda
entre as potências nucleares (pois é lá que capitalismo e comunismo se
encontravam frente a frente; é lá que os riscos eram mais evidentes e que
por várias vezes já se pensou estar iniciando o duelo apocalíptico).
Que tal ser jovem num país que vive em ritmo de usina e se assemelha a um
paiol, onde o fósforo aceso descuidadosamente pode mandar tudo pelos ares?
Os alemães respondem com sua arte: discos e filmes, o que mais nos chega,têm
como ponto comum uma frieza de enregelar. A sociedade que se adivinha por
trás deles é extremamente tecnológica, espantosamente robotizada e
miseravelmente desumana. Neles nâo há piadas. Há uma total falta de
perspectivas, mitigada pelas drogas e por remotos sonhos de evasão. A
estrada é um símbolo primordial - escapar para longe, onde não existem
fronteiras nem muros (vide os filmes de Wim Wenders; vide o LP Autobahn, que popularizou o Kraftwerk).
Vias de escape
Entende-se então porque os alemães só curtiram o rock dos anos 70, o rock da
raiva e do desencanto. Antes havia alegria demais, e todos aqueles projetos
de mudança do "flower power". Se o psicodelismo assumiu nos EUA e Inglaterra as feições risonhas do "paz e amor", na Alemanha tudo foram bad trips.
A distância entre ambos é a que vai de Woodstock a Christiane F. E, não por
acaso, a primeira leva de expoentes mais notórios do rock alemão veio na
esteira dos LPs de 1969 do Pink Floyd e King Crimson ("Ummagumma" e "In The Court of The Crimson King"), discos-manifestos do rock espacial.
Seus atrativos: ofereciam também via de escape, já não através das prosaicas
estradas de asfalto, mas sim pelas lisérgicas rotas do firmamento: e
começavam a desvelar o mundo moderno como palco de dominação tecnológica(enfoque familiar aos germânicos, que já haviam vivenciado o sutil
totalitarismo da sociedade regida pelo deus computador).
Um dos traços mais característicos do rock progressivo alemão seria
exatamente a denúncia da tecnologia. E, bons estrategistas, eles voltariam
contra o inimigo as armas do mesmo: abusariam ao extremo da parafernália
eletrônica, como a enfatizar a artificialidade do ambiente transfigurado
pela tecnologia. Nunca se ouviu tanto sintetizador, mas também nunca os
sintetizadores foram acionados para produzir sons tão desagradáveis:
estática, goteiras, serrotes, o diabo. Herdeiros de grandes experimenta-
dores como Stockhausen e Kagel, os alemães criariam uma música destinada
quase que exclusivamente ao cérebro, e que na melhor das hipóteses servia
para embalar viagens por paisagens etéreas,- na maioria dos casos, parece
trilha sonora de pesadelos ou de bizarros filmes undergrounds.
Os boches estão chegando
No Brasil, o rock alemão despontou em meados da década de 70 e obteve
considerável impacto, apesar de distribuido por pequenas gravadoras (a "One
Way", através do selo "Sábado Som" e a "Basf") ou por uma companhia sem
tradição roqueira (a "Copacabana"). Com recursos e experiência superiores,
a EMI-Odeon alçou ao sucesso três grupos que lançou: Triumvirat, Eloy e
Kraftwerk.
A invasão foi repentina e maciça. Com pouquíssima informação prévia, foram
chegando o Omega, Emergency, Thirsty Moon, Kollektiv, Wolfgang Douner Group, Harmonia,
Cluster, Yatha Sidhra, Neu, Nine Days Wonder, Gila, Embryo e
tantos outros, obrigando os curtidores da "head music" a verdadeiras
maratonas de avaliação.
Um esporte praticado à época era identificar o conjunto norte-americano ou
britânico que cada grupo alemão copiava. Além de tardia, a aclimatação do
rock na Alemanha foi meio precária, dando ensejo à existência de muitas
bandas-xerox: a Jane era o Procol Harum sem tirar nem pôr; o Amon Dull II
lembrava demais o Jefferson Airplane e o Starship; o Triumvirat tinha tudo
do Emerson, Lake & Palmer.
NEKTAR
Sucesso surpreendente obtido no Brasil foi o do Nektar e suas intermináveis
suítes de ficção científica. Em menos de dois anos, teve o despropósito
de sete discos aqui lançados. Trata-se, na verdade, de uma banda formada
por músicos ingleses que tocavam na Alemanha desde meados da década de 60. Só gravaram o LP de estréia, "Journey to the Centre of the Eye", em 1971.
Suas influências óbvias eram as novelas de Isaac Asimov, "Viagem Fantástica"
em particular, e o disco "Tarkus", do Emerson, Lake & Palmer (aquele cujafaixa-título toma um lado inteiro do LP e mostra as peripécias futuristas
de um tatu-tanque-de-guerra).
O Nektar manteve sua base de operações em território alemão e continuou sendo distribuído por uma gravadora germânica, daí merecer o enquadramento dentro do germanic-rock. Decaiu com a saída do guitarrista Roye Albrighton e se
desfez em 1978, Outros discos: A Tab in the Ocean, Sounds Like This 1,
Remember the Future, Sounds Like This 2, Sunday Night at London Roundhouse
Down to Earth, Recycled, Live in New York, More Live in New York, Magic is
a Child, Man in the Moon e Thru the Ears.
TRIUMVIRAT
A influência de "Tarkus" (e "Pictures at an Exhibition") é mais nítida ainda
em "Mediterranean Tales", o disco de estréia do Triumvirat. Formado em 1968,
esse grupo só conseguiu gravar em 1972. Inicialmente era um trio, o que
justificava o nome, depois trocou seguidamente de formação e quantidade de
elementos.
O único membro constante foi Jurgen Fritz, cujo exibicionismo se casava às
mil maravilhas com a pompa sinfônica do conjunto (numa enquete promovida
no Brasil, entre os leitores do "Jornal de Música", Jurgen foi eleito o
terceiro melhor tecladista de 1975, atrás dos não menos espalhafatosos
Rick Wakeman e Keith Emerson). o Triumvirat foi outro grupo que faturou
bastante no Brasil durante o apogeu das suítes classicosas (graças às
peças desse tipo contidas nos LPs "Illusions on a Double Dimple", 1973,
e "Spartacus", 1975). Discos posteriores: Old Love Dies Hard, Russian
Roulete, Pompeia, A La Carte.
GURU-GURU
Menor repercussão obteve entre nós o trio Guru Guru, cujos discos aqui
lançados (Guru Guru e Kangooroo) lembram vagamente o Pink Floyd e o Jimi
Hendrix Experience no que ambos tinham de pior. Expepimental, para o Guru
Guru, parecia ser sinônimo de desagradável. Seus LPs equivalem a compilações
de sons irritantes. Curiosamente, um deles estampa na contracapa um manifesto contra roqueiros que "esqueceram suas raizes, dirigindo-se na direção do
plástico e deixando-nos completamente frios". E, talvez por causa do espaço
que o guitarrista Ax Genrich encontrava para exibir sua pouca técnica,
há quem considere o Guru Guru como precursor dos grupos pesados alemães.
AMON DULL
Trabalho de mais peso foi o do Amon Dull II, apesar das óbvias semelhanças
com o San Francisco Sound. O conjunto remonta exatamente ao psicodélico
1968, quando pintores, poetas e músicos conviviam num castelo dos arredores
de Munique, transando todas. Esse foi o primeiro Amon Dull, de orientação
mais política (no sentido hippie, anarquista, da palavra). Aí houve uma
cisão: parte foi para Berlim, o resto Permaneceu em Munique, com o nome
de Amon Dull II. Dele nos chegaram a coletânea Lemmingmania e os LPs Hijack e Made in Germany. Outras obras: Phallus Dei, Yeti, Dance of the Lemmings,
Carnival in Babylon, Wolf City, Live in London, Vive La Trance e Minelied.
CAN
Um dos mais sofisticados grupos alemães é também, de longe, o mais
soporífero: o Can, formado em Cologne, 1968, por dois ex-alunos de
Stockhausen (Holger Czukay e Irmin Schmidt) e dois músicos de jazz
(Malcolm Mooney e David Johnson). Os jazzistas logo debandaram, deixando
o campo livre aos dodecafônicos. Sedimentou-se assim o estilo Can:
repetição de figuras rítmicas e harmonias simples, enquanto se executam
longas e tediosas improvisações. Tudo computadorizado ao extremo, dígno de
uma danceteria para robôs.
Seu LP de estréia, "Monster Movie", teve produção do próprio grupo e
distribuição independente. E como sua música meditativa se presta bem para
o cinema, foi constante a participação em trilhas sonoras (das quais a mais
famosa é a de "O Ato Final", obra-prima de Jerzy Skolimowski); amostras
desses trabalhos estão no álbum "Soundtracks".
E nos LPs "Tago Mago", "Ege Bamyasi" e "Future Days" o vacalista foi Damo
Suzuki, com o que o Can teve o discutível mérito de ser uma banda alemã com
cantor japonês que cantava em inglês ... Outros discos: Soon Over Babaluma,
Landed, Unlimited Edition, Flow Motion, Can, Cannibalism, Out of Reach
e Opener.
TANGERINE DREAM
Igualmente festejado pelos intelectuais foi o Tangerine Dream, banda fundada
em 1967 por Edgar Froese (guitarras, teclados) e alguns amigos. De início,
copiavam o Doors e Jimi Hendrix Experience. Em 1969, após inúmeros e
inúteis contatos com gravadoras berlinenses e londrinas, desfizeram o grupo.
Em 1970, nova tentativa. Ao lado de Froese estavam Klaus Schulze (ex-Psy
Free, tocando vários tipos de percussão) e Connie Schnitzler (guitarras,
cello e violino). Levaram uma fita gravada durante ensaios à Ohr Records e
viram-na transformada no LP de estréia, "Electronic Meditation", que vendeu
razoavelmente bem (Inclusive na Inglaterra, através de discos importados).
Schulze logo partiu, indo juntar-se ao Ash Ra Tempel, com o qual realizou
dois discos, seguindo depois uma carreira solo bastante prolífica. A seguir
foi a vez de Schnitzler sair, mas o Tangerine Dream (leia-se: Edgar Froese)
perseveraria.
Por ele passaram músicos como Christoph Franke, Steve Schroyder, Peter
Baumann, Klaus Krieger, Steve Jolliffe e Johannes Schmoelling, além de
participações especiais como a de Florian Fricke no LP "Zeit" (Florian
viria a ser o líder de um conjunto não lançado no Brasil, o Popol Vuh).
Mas o Tangerine Dream, em que se notam influências de Stockhausen e
Terry Riley, foi sempre a segunda identidade de Froese, quando não
assume sozinho o trabalho, como-se deu nos LPs "Ages", "Aqua", "Epsilon
in Malaysian Pole" e "Stuntman". Além de "Electronic Meditation" e "Zeit",
a discografia do Tangerine Dream compõe-se de: Alpha Centauri, Atem,
Phaedra, Rubycon, Stratosfear, Ricochet, Encore, Sorcerer, Cyclone, Force
Majeure, Thief, Exit e White Eagle.
ELOY
Com menos importância artística mas insistentemente lançado no Brasil, o Eloy foi fundado em 1969, em Hannover, pelo guitarrista e cantor Frank Bornemann, que se manteria como líder e único membro efetivo do grupo ao longo das
várias formações. No início, o Eloy tocava desde Beatles até Moody Blues,
mas logo Bornemann introduziu suas próprias composições. Após participar
de alguns festivais de rock na Alemanha, gravou em 1973 o LP "Inside", no
qual já era possível notar que o Eloy estava fortemente propenso a seguir
os passos de grupos românticos da cena progressiva inglesa, como o Genesis.
"Inside" se colocaria entre os dez discos mais vendidos nas paradas
norte-americanas. O sucesso nos EUA abriria caminho para "Power and the
Passion", considerado o melhor trabalho do Eloy. Mas, por volta de 1976, uma
violenta crise interna quase destrói o conjunto, que muda constantemente de
integrantes até janeiro de 1982. quando a volta do baterista Fritz Randow
andou sendo apregoada como um renascimento do Eloy. Outros LPs: Floating,
Dawn, Ocean, Eloy Live, Silent Cries and Mighty Echoes, Colours, Planets,
Time to Turn e Performance.
KRAFTWERK
Outro grupo muito apreciado no Brasil (o que mais teve lançamentos nacionais,
entre todos os alemães) é o Kraftwerk, formado pelos multiinstrumentistas
Ralf Hutter e Florian Schneider, egressos do Organization - conjunto de
final dos anos 60, muito influenciado pelo Pink Floyd. No início da década
de 70, Ralf e Florian abandonaram o Organization e constituíram o Kraftwerk,
cuja tradução literal é usina de potência. O novo grupo recebeu acolhida e
orientação do mago Conrad Plank, proprietário de um estúdio que ficava no
meio de uma refinaria de óleo em Dusseldorf, o qual depois se dedicaria a
alguns grupos significativos de new wave (entre os quais esteve o Ultravox).
Os dois primeiros discos da dupla, sem títulos específicos, mostram
influências do Pink Floyd, bem como de Stockhausen, Terry Riley e John Cage.
Mas já no LP "Ralf Und Florian" se nota um prenúncio do trabalho mais
acessível que viria logo a seguir. A partir de Autobahn, o grupo se torna
quarteto, com a entrada de Wolfgang Flur e Klaus Roeder (depois substituído
por Karl Bartos, quando o Kraftwerk chegou à formação que mantém até hoje).
O conjunto abriu caminho para muito do que se fez em matéria de música
eletrônica a nível de rock, preparando o advento do tecnopop; tem em
David Bowie e Brian Eno grandes admiradores. Outros discos: Radio-Activity,
Trans-Europe Express, Exceller 8, Man Machine, Computerworld e Tour de
France.
Apesar de conhecer bem a historia dos grupos, esse camarada se sentiu, achando que pode esculachar com grupos conceituados e amados por todos nós! Acho um abuso alguem se dar ao luxo de publicar um trabalho com opiniões por demais pessoais e dúbias. As bandas que ele critica, construiram obras-primas ate hoje insuperadas e re-copiadas. Há controvérsias!
ResponderExcluirValeu pelo comentário! Concordo com você.
ResponderExcluir